quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Esquizofrenia - Uniprevidencia bom dia! (conto curto)

Pintura de Ravi Varma



***

Esquizofrenia - Uniprevidencia bom dia!

O telefone toca: Triiinnn! Jorge atende:

- Uniprevidencia bom dia!

- Jorge sou eu, seu melhor amigo, o Bruno!

- O senhor não consta nos nossos cadastros, escolha uma opção no teclado numérico de seu aparelho.

- Jorge, é o Bruno está lembrado, nos conhecemos a mais de 15 anos!

- Esta opção não conta em nosso sistema. O senhor deseja que eu lhe envie uma ficha para cadastro especial pelo correio, você receberá na sua casa, sem nenhum custo adicional.

- Porra Jorge tu ficou louco mesmo, vai toma no cú!

E Bruno desliga o telefone na cara de Jorge.

A enfermeira entra para tratar Jorge, ele mal conseguia se alimentar direito, na verdade se babava todo. Uniprevidencia bom dia! Estava surtando, pirado mesmo, tentava comer tão rápido que metade da comida caia sobre sua cama de hospício.

Entra Fabiola, sua enfermeira com sua refeição matinal:

- Olá Jorge, tudo bem, vamos tomar seu desjejum?

- Uniprevidencia bom dia!

- Hoje ta caprichado, tem café, mamão, suco e aquela geléia que você gosta.

- Aguarde um momentinho por favor...

O silêncio toma conta da sala, ninguém fala nada, muito menos se move. Ficam as moscas.

De repente Jorge tenta atacar a comida encima da bandeja da enfermeira, não vai dar certo. Pula da cama, afastando seus lençóis rapidamente, e Fabiola, como toda boa enfermeira procura se proteger. E Jorge quer cada vez mais a comida que está na bandeja. Isso não vai terminar bem. Ficam por um tempo nessa luta sem saber quem vai vencer. Por fim Fabiola se irrita e desiste in continenti de alimentar Jorge:

- Esse doido que se suje todo! – disse Fabiola que joga a comida toda encima de Jorge.

A cama de Jorge fica cheia de comida, comida por tudo. A geléia, o suco, café, mamão, tudo fica espalhado pela cama. Mesmo assim Jorge tem que comer toda essa comida, e ele a come.

Depois que termina de comer cai em profundo sono.

Jorge estava louco, havia trabalhado demais. Pobre coitado, só queria um insignificante tênis com ar. Uniprevidencia bom dia!

***

Faz algum tempo tentei escrever coisas que tratam da loucura, textos com total ilógica, irracionais, pois falam da loucura, e como "título da série" seriam todos esquizofrenia (alguma coisa).

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A volta

Pintura do Argentino Xul Solar.
*******
A volta (conto)

Havia acabado de voltar de uma viajem que havia feito. Queria muito dar um tempo na minha vivência naquela cidade, por isso a viajem. Uma cidadezinha no Sul do Brasil, que fazia um calor infernal no verão e frio no inverno, um frio gostoso, para se usar pantufas, comer pinhão e ficar em volta da fogueira. Quando havia voltado minha família fez um jantar para mim. Comi todas aquelas coisas de casa, boa comida. Isso foi à cinco dias atrás, eu acho. Bem, e que importa? O que importa é que como faz algum tempo que eu voltei, todos puderam ir passear e fazer compras, não sei porque resolveram ir fazer compras. Só sei que estava frio. Havia conversado com um amigo, ele disse que era para ir na casa dele, conversarmos. Fui.

Sua casa ficava num bairro tão residencial classe média quanto o de meus pais. Seus pais assim como os meus não estavam em casa, “foram passar o final de semana em Lages”, ele me disse. Perguntou-me como foi ficar um ano fora. Disse que fora legal, conheci algumas pessoas. Ele pergunta se eu transei com alguém. Disse que sim, mas era mentira, quase não sai lá, foi como um retiro espiritual, mas um pouco forçado, barreiras da linguagem. Bem sempre havia sido uma pessoa muito reclusa. Ele disse que chegariam uns amigos seus. Enquanto isso tomamos um gole do vinho que ali tinha, vinho bom, chileno, da adega de seus pais, que por sinal eram mais ricos que os meus. Não demora eles chegam, gente que não conhecia, pessoas comuns sabe? Que usam lã sintética no inverno. Todos se cumprimentam. Vamos para um lugar da casa mais propício para pessoas conversarem. Sentamos numa mesa. Do lado direito senta um cara, de barba negra, do lado esquerdo uma garota, cabelos negros também, pele morena. No começo cada pessoa tinha seu espaço, após o segundo copo de vinho e a sétima piada seguida, todos já se encostavam:

- é verdade que você esteve fora por um tempo? – a garota a minha esquerda me pergunta.

- sim, um ano.

- nossa, e como foi?

Conto para ela todas aquelas coisas de sempre, muito legal, bacana, novas experiências, lá é diferente daqui, e tudo o mais. Não sei se por falha minha ou desinteresse dela, paramos de conversar. As pessoas vão saindo, só ficam o anfitrião, eu e as duas pessoas ao meu lado. Sinto uma mão na minha perna. Discretamente olho para baixo, era uma mão peluda, olho de onde ela vem; do cara do meu lado. Vou para o lado oposto, mais perto da garota, ela sorri de canto. Tomo um gole do vinho e finjo prestar atenção na conversa entre este cara e meu amigo. Sinto o calor vindo das pernas da garota ao meu lado, encho seu copo com vinho e em seguida encho todos os copos da mesa. Não demora eu terminar de encher os copos, o cara põem a mão na minha perna de novo. Dessa vez empurro discretamente com a mão. Bem que me disseram uma vez que gola alta nem sempre fica bem.

Volto a conversar com a garota. Ela era simpática, sorridente. “Estou com frio”, ela diz se encostando em mim. A abraço, e digo que também sinto frio. Acho que isso é a coisa mais legal do inverno, pretexto para as pessoas ficarem se abraçando. Fazia tempo que eu não sentia um corpo quente junto ao meu. Conheci algumas pessoas no exterior, mas como já sabem, não me deitei com ninguém. Nada passou de uns amassos. Queria muito beijar a barriga, a nuca, apertar as coxas, beijar os seios. Ela era de uma delicadeza e beleza ímpar, como toda mulher é. Olhava sempre para a bunda e os seios, um deles sempre deveria me agradar, nela, os dois me agradavam. O rosto, apesar de estar maquilado, e geralmente eu não gostar de mulher usando maquilagem, me agradava também. Deito minha cabeça no seu ombro. Fico assim nem um minuto, e dou um beijo em sua bochecha. Ela sorri, e me beija. Nos beijamos, rápido, haviam pessoas olhando. Todos sabiam o que se passava, mas nunca pode ficar na cara, sabe como é, há uma explicação histórica para isso. É só dar uma olhada, no que foi feito a respeito do sexo na idade média, com essa coisa do cristianismo que está marcada em nossa pele. Não quer dizer que antes faziam mais sexo, só quer dizer que a forma de fazer sexo mudou. Ela sussurra em meu ouvido, “me encontra na cozinha, mas não vai agora”. Sorri, tomei um gole de vinho enquanto via suas nádegas indo embora. E imaginar que reconheceria ela também pelas nádegas... engraçado, mas faz todo o sentido. Tomo o resto do vinho em meu copo. O cara parece que havia desistido de pegar na minha perna. Vi que voltava alguém, esperei esse alguém se sentar. Tomei mais um pouco de vinho. E me levantei. Percebi nessa hora que a tontura do vinho era um pouco maior do que eu imaginava.

Ela estava na cozinha, tomando vinho. Vou direto até ela, e a beijo. Dessa vez um beijo longo, a aperto contra meu corpo. Ela envolve seus braços ao redor do meu pescoço. Sinto meu pinto ficar duro, aos poucos, crescendo dentro da calça jeans apertada, isso machucava um pouco. Ela passa a mão pela marcação que fazia na calça. Acaricia a cabeça. Vamos pelo corredor, descemos para o porão. Lá havia uma saleta, com livros e filmes. Estava tudo escuro, fomos até um canto, num sofá. Deitamos, ela abre meu zíper, levanta a sua blusa, e tira seu sutiã, tiro a minha blusa. Beijo, ela beija, nos beijamos, beijamos muito. Tiro as calças, minha e dela, fico só de cueca, ela só de calcinha. Beijo seu umbigo, e tiro sua calcinha. Passo a mão. Ela ri, baixinho, para ninguém ouvir. Eu rio baixo, mas da situação engraçada. Tiro minha cueca, procuro rápido na minha calça a carteira, acho a carteira, da carteira tiro uma camisinha. Ela põem a camisa de Vênus, senta encima de mim, e se mexe. Cada vez mais concentrada. Envolve minha nuca com seus braços, e vai para frente e para trás, vejo e sinto seus seios pressionando o meu peito, mais forte, menos forte. Sinto seu corpo quente, sua vagina quente. Sinto algo na minha cabeça, uma espécie de calorão, meu corpo prestes a ficar mole, e sai tudo, como um jato, um jorro. Ela para, estávamos começando a ficar suados, na verdade já estávamos um pouco suados. Nos olhamos, sorrimos. Pegamos nossas roupas, nos vestimos e subimos as escadas, de fininho para ninguém ouvir. Ela volta para a sala onde todos estavam novamente, menos nós. Fico na cozinha, tomo água. Sempre dá sede, sempre sinto sede.

Volto, converso mais um pouco. Contamos piadas. Sento do lado dela, nos abraçamos, mas só um pouco, seria só aquela noite. Depois de algum tempo, já era madrugada, queria ir para casa, o sono me vencia. O sono começava a incomodar a todos. Mal nos despedimos, eu e ela. Simplesmente vamos cada um para sua casa.

Em minha casa minha família já havia voltado. Havia feito esta viajem de um ano sob o pretexto de pensar sobre a minha vida, mas agora eu voltei à praticamente uma semana, e estou em dúvida sobre o que eu vou fazer amanhã... Será que eu ligo para ela? Será que eu quero tanto assim ficar com ela de novo? Precisava fazer algo, eu era obrigado.