terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ludovico

Pintura de Calder, artista conhecido principalmente por seus mobiles, mas escolhi uma pintura sua, pois creio que os mobiles despertam interesse quando vistos cara-a-cara.

***

Ludovico

“Havia surgido uma nova tecnologia no mercado”, anunciavam. “Algo revolucionário”, declarou o presidente, “A solução para o problema da educação” repetiam em coro as pedagogas. Sua esposa o incomodava para que ele também fizesse parte do programa. Todos estavam fazendo, e o resultado era ótimo, já comentavam no trabalho. Seu chefe já havia feito, ainda era algo caro, por isso poucas pessoas estavam fazendo. O resultado é que a empresa obteve melhores números.

Meses depois chegava em sua casa, com a roupa molhada da chuva, exalando aquele típico cheiro. Jogou seu casaco por sobre o sofá e sentou-se no outro sofá de fronte a televisão. Tirou seus sapatos, pôs os pés por cima da mesa de centro, liga a televisão e começa a trocar repetidamente de canais. Sua esposa já estava em casa, cozinhava uma janta para os dois, era sexta-feira:

- HEI, JÁ VISTE O QUE EU TROUXE PARA QUE TU VEJAS? – Ela berrava da cozinha.

- ah? Não, o que é?

Ludovico ouve os passos de sua esposa vindo da cozinha, e a vê parar bem em frente a televisão e afastar os pés dele de cima da mesa de centro, pegar um folder e lhe colocar no colo:

- Isto, dá uma olhada. – diz a Ludovico logo após jogar o panfleto em seu colo, e apontava para sua pélvis, pois era onde estava o panfleto.

- Vou dar uma olhada – Responde desinteressado, e o coloca ao lado de sua coxa.

Sua esposa termina de cozinhar a janta, era pernil de porco com purê de batatas. Rebeca sempre o importunava para que ele comesse o pernil, mas sempre comia pouco. Comeu praticamente todo o purê de batatas. Mas este já não era tão bom quanto o que comia na casa de sua mãe, porém isto não passava de um detalhe que ficava explícito em cada refeição:

- E o que tu achaste do panfleto que te trouxe? – inquiria sua mulher enquanto levava a boca um naco do pernil.

- Que panfleto?

- Aquele do programa da inteligência.

- Ah, não deu tempo ainda. Mas, o que tem este programa?

- Estão fazendo um bom preço numa clínica aqui perto.

- Oh! Impressionante. – E indiferentemente continuava a comer seu purê e singelos pedaços de pernil.

Rebeca fica a olhar-lhe, com uma cara única de raiva, abaixou a cabeça e continuou a comer. Mexeu com a comida, pôs um tanto do purê em seu garfo, o levou a boca, ficou a arrastar o garfo e a faca em seu prato para conseguir agrupar mais um tanto de purê. E o ergueu até próximo a boca, assoprou na comida e começou a falar:

- Olha, se tu não queres aproveitar esta oportunidade, tudo bem, você é livre para isto, não estou lhe impedindo nem vou lhe incomodar. Não escondo que ficaria feliz se você fizesse este programa. Quem sabe fazendo ele você não conquista aquela promoção que faz tanto tempo estamos esperando? Daí teremos mais dinheiro, poderemos comprar mais coisas, botar uma TV a cabo melhor, não é tu que tanto reclama da programação da TV? Todo mundo está fazendo este programa, é um investimento que vale a pena, é mais rápido que fazer todo um curso que demora não sei quantos anos e ainda tem que fazer uma tese no final, com este programa não precisa nada, só vontade. Mas tu sempre foi preguiçoso mesmo, também não posso fazer nada, tu és livre para seres assim preguiçoso, mas e eu Ludovico, como fico? Me sinto humilhada, o marido de Sara já fez o programa e conseguiu uma promoção, final do ano eles vão para Miami, vão poder comprar um monte de coisas no free shop, enquanto nós temos que ficar aqui. – ela então leva o garfo a boca, que até agora estava fazendo acrobacias já que Rebeca falava, come o purê engole, Ludovico a olhava, ele sabia que ainda viria mais alguma coisa – e não sei, talvez seria uma boa tu fazeres o programa, é na clínica de estética do Dr. Roberto Damião, muito bom médico ele, e por sinal é a mesma clínica onde foi o Roger, o esposo da Sara. Acho que poderíamos pegar um pouco do nosso dinheiro e usar para fazer mais dinheiro, para crescer, evoluir, só isso. Mas eu não quero te pressionar.

- Okay, tudo bem, eu vou dar uma olhada nisto amanhã. Pode ser? Para falar a verdade estou curioso para ver isto, não vou mentir, andava pensando um pouco sobre isso, não muito, não sabia que tu te importavas tanto. – E ao terminar de falar põem a sua mão por cima da de Rebeca que estava por sob a mesa, e a mira ternamente nos olhos. Ela sorri e volta a falar.

- Eu até estava me informando, dá para fazer em vezes e tudo o mais. Tanto no cartão quanto no cheque, aceitam cheque pré, são muito atenciosos pelo que eu fiquei sabendo. Não é que você seja burro, você é inteligente, mas como todo mundo fala bem desse programa, e ele está dando certo para todo mundo, não custaria nada a gente tentar não é mesmo?

- Aham, faremos o seguinte, eu faço o programa primeiro, porque recebo mais no meu trabalho, aí então, depois com o aumento que vou receber e tudo mais, logo que tivermos pagas as minhas parcelas, depois logo em seguida, você também pode fazer, sempre caminhamos juntos, continuaremos seguindo juntos está bem?

Ela consente com a cabeça, sorri e continua a comer seu pernil.

*--*

Todos falavam da clínica de estética Beverly Hills, mesmo com seu visual exagerado, ainda assim era a melhor clínica de estética não só da cidade, como de toda a região. Por sinal era ali que várias personalidades locais fizeram suas cirurgias plásticas, e uma das primeiras do país e ter este novo programa.

Ludovico estava receoso, não sabia o porque, mas o ambiente médico joga com uma dualidade única, ao mesmo tempo algo que lhe acalma, como algo que pode ser desesperador. Graças a todos os remédios geralmente ficava calmo.

Entra na recepção, pega uma senha, espera alguns minutos, enquanto isso pega uma daquelas revistas que tem na capa a manchetes como: “a verdade sobre a maçonaria”, dá uma folhada, e parece que a reportagem falava dos rituais maçons, e a divisão entre os maçons do “bem” e os do “mal”. Tudo aquilo parecia baseado em algum filme, só faltava o santo graal no meio. Nisso sua senha é chamada.

Vai até a cabine onde seria atendido, lá estava uma moça, vestida exageradamente, ela ficava atrás de uma cabina e não havia como um tomar contato com o outro, nem com o ar, para evitar contaminações:

- Boa tarde, o senhor deseja realizar qual procedimento?

- Eu estava interessado neste novo programa que vocês têm que...

- Por qual motivo seria senhor? – a atendente o interrompe como se já soubesse o que ele queria.

- Para quê estas perguntas?

- Para nosso banco de dados, para poder melhor atender o senhor, por qual motivo senhor? – ela repete, dava para sentir o cansaço em sua voz, os nervos cansados, rijos como os músculos de um boxeador após uma luta.

- Bem, basicamente seria para conseguir uma promoção no meu emprego.

- Okay, o senhor prefere pagar à vista ou em 34 vezes sem juros?

- em 34 vezes.

A atendente gera uma nova senha, no papel haviam informações adicionais. Ela lhe entrega o bilhete e pela primeira vez olha para o rosto de Ludovico:

- Entrando na porta a direita senhor. – e ela mostra onde fazendo um gesto com a mão. Ludovico queria perguntar mais algumas coisas, mas desistiu ao perceber que a moça já havia chamado outra senha.

Na porta a direita já havia alguém lhe esperando, lhe perguntam se ele gostaria de assistir o vídeo sobre os benefícios do programa, Ludovico responde que sim. O vídeo contava a história do programa, desenvolvido por espanhóis e alemães, muito popular nos EUA, mostrou as declarações da ONU, repetia constantemente dois jargões; “a solução para a educação” e “melhore sua carreira”. O vídeo demorava em torno de dez minutos, não mais que isso. Logo que ele acabava, aquele mesmo homem levava Ludovico para uma outra sala, lá aparecia um médico, e ele perguntava coisas como; se tinha dislexia, hiperatividade, sonambulismo, diabetes e outras tantas coisas. Novamente Ludovico pergunta o porque de todas estas perguntas, e ouve uma boa justificativa: “para melhor atende-lo e para a sua segurança”. O médico lhe fala que até agora, o único risco que ele poderia correr era a perda total da memória, e que não deveria se preocupar, pois cerca de 10% da sua memória ele iria perder de qualquer forma, mas que isto compensava, pois assim que o programa terminasse, ele teria lembranças mais agradáveis. Assim que o médico vai embora, o mesmo sujeito que o acompanhara até então aparece com um contrato numa prancheta, e pedia ao paciente para assiná-lo, era um termo de compromisso. Ludovico hesita, mas cede a todos os benefícios de que lhe haviam falado, e assina. Tão logo estava indo para uma sala toda metálica, como se fosse um tanque de lavar roupa. Lá havia um biombo, pediram para tirar a roupa, colocar na gaveta que havia na parede e vestir a roupa de paciente. Ele obedece. Pedem para que vá até a mesa no centro, ele obedece. Imaginou que ela estaria gelada, pois a sala era muito fria e a mesa também era metálica como toda a sala. Mas pelo contrário, a mesa estava quente. Provavelmente devido a não parar de ir gente se deitar ali, ou simplesmente era aquecida. Lhe dão uma pílula para dormir, logo ele dorme.

*--*

Acorda numa cama. O colchão era macio, confortável, a coberta era boa também. Haviam algumas camas ali, mas só a de Ludovico estava ocupada. Olhou o relógio, e viu que já havia passado algumas horas, perto de 5 horas desde quando havia se deitado naquela cama metálica. Ainda estava bem sonolento, mas o sono passava conforme ficava acordado. Logo veio uma enfermeira, ela trouxe um copo com água e duas pílulas. Enquanto toma Ludovico pergunta para que eram; “Por causa das dores de cabeça que dão no primeiro dia”. Fazia todo sentido. Sem falar que dores de cabeça são terríveis e remédios uma benção! Ela o espera tomar os dois comprimidos, o faz realizar exercícios de respiração, depois de cinco minutos fazendo o exercício ela o levanta e começam a fazer um exercício de alongamento, estica as pernas, o braço, as costas. Então ela o leva até uma sala onde suas roupas estavam e lhe disse que podia se vestir e que o aguardava do lado de fora. Se veste rápido, queria ir embora logo. Quando sai a enfermeira o leva até um escritório, lá Ludovico recebeu uma receita do remédio para dor de cabeça e um atestado para quatro dias. A enfermeira lhe dá algumas informações do que acontece após a operação e lhe informava alguns cuidados que deveria ter: “deve ficar três dias em repouso, procurar não fazer grande esforço mental por uma semana, nada de ler livros, jogar xadrez, sudoku e outros, procure comer alimentos saudáveis, não se assuste caso deixe de lembrar de algo, isto é um bom sinal, significa que o programa deu certo e procure não sair de casa sozinho no primeiro mês, pois algumas pessoas esquecem o caminho para casa, falando nisso já chamamos um táxi para levar o senhor para casa”. Logo o pegam pelo ombro e delicada e calmamente o levam até a entrada da clínica. Em dois minutos aparece o táxi, a enfermeira o guia até o carro e antes de fechar a porta avisa “Senhor não esqueça, o seu boleto virá pelo correio”, ele faz um sinal de positivo com a cara e ela fecha a porta. O táxi já tinha o endereço da casa de Ludovico, e o que lhe deixou tranqüilo era que lembrava de todo o caminho até sua casa.

*--*

Era seu primeiro dia de trabalho depois de ter feito o programa. Se sentia cansado para ir trabalhar, mas acreditava ser um pouco da moleza que dá depois de alguns dias em casa sem fazer muito mais do que assistir TV. Sua esposa estava orgulhosa por ele ter feito o programa, até o levaria de carro para o trabalho e havia prometido o buscar quando ele saísse. Por sinal levava um bolo para comemorar no trabalho dela, dizia Rebeca que era uma espécie de tradição no escritório dela. Ludovico chega no trabalho. Pega o elevador e encontra Bruno, um colega seu que nunca conversava com ele, praticamente o ignorava, nem se cumprimentar eles faziam, mas neste dia ele o parabeniza: “Parabéns Ludovico, que atitude que tomasse para sua vida hein?”, Ludovico surpreso lhe pergunta “Parabéns porque?”, “Ora, você fez o programa, sabe que vai ser promovido” Bruno lhe dá um tapinha nas costas, chega perto de seu ouvido e lhe fala “Bem, não fiz o programa pois no momento estou sem dinheiro, você fez a coisa certa” e termina lhe jogando uma piscada de olho. Chegam no andar do escritório. Ludovico senta em sua mesa como sempre e começa a trabalhar, e percebe que a cada vez que alguém por ali passava lhe cumprimentava, seja com um abano de mão ou uma piscada de olho. Respondia a todos com um sorriso forçado. Depois de uma hora sentado na frente de seu computador alguém lhe avisa que o chefe queria falar com ele. Ludovico fica nervoso, mas pelo sorriso na cara da secretária dele, não era nada demais, talvez ele só quisesse lhe parabenizar ou algo assim, já que era o que todos estavam fazendo. Vai até a sala do chefe. Assim que entra o chefe faz sinal para aguardar um pouco, ele estava no telefone. Não demora muito desliga o telefone se levanta e vai dar um aperto de mão em Ludovico “Parabéns meu rapaz, soube hoje pela manhã que você fez o programa, fico muito contente por isso, quero deixar claro que vejo isto tudo como um belo investimento em sua carreira e uma demonstração clara de suas ambições”, então seu chefe faz um gesto com a mão para que Ludovico se sente, ele se senta, a secretária traz um café para o dois, e o seu patrão começa a falar:

- Bem Ludovico, vamos ser diretos pois todo meu tempo é precioso. Estou precisando de uma nova equipe de consultoria, trabalharão principalmente com a parte de publicidade e motivação para o escritório, terão esta função dupla. E bem, estou fechando a equipe hoje mesmo e como você fez o programa acredito que pode ser uma boa hora para lhe dar este privilégio, o que você acha?

- Acho muito interessante, e gostaria de saber quanto de aumento eu vou receber senhor?

Seu patrão da uma risadinha aponta o dedo para o rosto de Ludovico e lhe diz com um sorriso de orelha e orelha:

- Já vi que você não gosta de perder tempo – ele ri mais um pouco fazendo o mesmo gesto de antes com seu dedo – bem seu salário praticamente dobra, é um pouco menos mais é quase isso.

Ludovico fica bem feliz, dá um sorriso naturalmente e logo que terminam de acertar alguns detalhes fica tomada e sacralizada a decisão, “Não esqueça de me trazer seu certificado amanhã, pois amanhã você começa com o pessoal”. E Ludovico volta para o seu computador e seu trabalho, tinha que arrumar uma tabela no computador.

Quando sai do trabalho e sua esposa o busca pergunta se ela não quer ir comer alguma coisa em algum lugar legal. Ela sorri já imaginando o que seria. Vão até um belo restaurante de comida russa. Assim que pedem o prato que queriam Ludovico conta a novidade para a esposa, “Fui promovido hoje” ela fica super feliz o abraça e lhe dá um beijo, e começa a ficar excitada com a promoção do marido:

- Agora vamos poder trocar nosso carro e quem sabe fazer uma viajem, daí quando formos viajar podemos ir no freeshop e comprar algumas coisas para nós, o que você acha? E também posso fazer uma cozinha nova, e se tudo der certo e economizarmos direito podemos nos mudar para uma casa com piscina e um belo quintal. Podemos comprar umas roupas novas e uns sapatos novos. Vamos comprar roupas este final de semana, pois você não pode ir assim para o seu emprego agora que fostes promovido.

E assim seguiu a conversa até o fim da noite. Sem falar que sua esposa ficou constantemente lhe dizendo que havia o avisado para realizar o programa desde sempre.

*--*

Três dias depois e já com roupas novas, Ludovico estava na reunião com seus outros cinco colegas, dos quais somente um não havia feito o programa. Iriam dividir as tarefas da equipe “e como sabem, no primeiro mês vamos deixar Ludovico com uma carga menor devido a ele ter realizado o programa recentemente”, disse o líder da equipe. Após isto ele mostra uma apresentação de slides sobre o que é ser um líder e um empreendedor. Palavras como atitude, dedicação, liderança, autonomia, confiança e outras do gênero. A segunda pauta eram medidas para aumentar a produtividade. E assim se seguiu a reunião. Depois fizeram uma pausa para um lanche. Ludovico percebe que o lanche que ganhava agora era melhor que o que ganhava antes e isso realmente o animou desde que havia feito o programa. Depois foi dado a cada um uma prancheta com uma tabela e foram pelos setores colher dados para poderem futuramente aumentar a produtividade. Depois foram almoçar e combinaram que quem ainda não havia colhido dados suficientes poderia colher mais alguns e todos se encontrariam 14:45H para trocarem os dados do levantamento. Depois as três tiveram outra reunião que foi até o fim do expediente.

O expediente acaba e logo que saia do escritório o vizinho de biombo de Ludovico antes da promoção o encontra e o chama, “Hei Ludovico, porque não te vejo mais, fiquei sabendo que foi promovido, fez o programa é?”, “Sim faz uma semana mais o menos”, “Pô cara, então temos que comemorar!”. Seu antigo vizinho de biombo chama mais um colega e vão até o bar perto do prédio da empresa.

Sentam na mesa, pedem uma cerveja e três copos. O antigo vizinho começa a falar:

- cara que bacana, fizesse aquele programa novo então?

- sim, isso mesmo, estava pensando em investir em mim sabe?

- Sei, muito bacana. E como é ser promovido? Anda muito puxado? – pergunta o vizinho.

- Olha, tem suas vantagens e suas desvantagens. – Responde Ludovico quase que automaticamente, pois não tinha uma opinião formada, apenas dizia isto para não ficar calado.

E bebem mais, pedem uma porção pequena de batatas fritas, bebem mais e já havia escurecido. O lugar estava agora cheio pois passava um jogo de futebol na TV. Ludovico estava atento ao jogo enquanto o antigo vizinho e o colega discutiam sobre algumas políticas para que os jogadores joguem melhor. Cada um defendia sua opinião: “jogadores daqui não podem ir jogar em clubes no estrangeiro, tem que acabar com essa palhaçada, é injusto os melhores jogadores irem para fora”, “Não, os times devem continuar a investir em categorias de base para continuarmos a revelar grandes astros”, “Mas eles tem que ter mais amor a camisa, ou melhor nosso povo deveria ter mais amor a camisa, a pátria. Viu a copa?” e por aí iam os argumentos, constantemente mudando e transitando pela confusão. Até que então o antigo vizinho de Ludovico o olha na cara e pergunta: “Não é verdade que eles precisam ser mais patriotas, e não só o jogadores como os torcedores também?”, “como?”, “mais patriotas, não usar só a camiseta da nossa seleção durante a copa, torcer somente para times nacionais, pendurar a bandeira não só durante a copa ou as olimpíadas, tem que ter amor a pátria!”. Ludovico fica parado tentando entender o que seu colega estava falando, olha a comanda e viu que já haviam ido sete cervejas e que já estava escuro, precisava ir para casa logo ou teria problemas em casa com sua mulher, “é, não dá para brincar em serviço mesmo Nachbar”. Nachbar olha para o colega e diz, “viu como eu tava certo, quem disse isso não foi eu foi o Ludovico!” e ambos levantam os ombros e as mãos fazendo sinal de quem aceita um veredicto.

Racham o dinheiro da comanda e vai cada um para sua casa, antes de irem Nachbar conta uma piada e cada um vai para o seu canto. Ludovico vai até seu carro, tem dificuldade para colocar a chave na fechadura e a deixa cair no chão. A ajunta e olha ao redor do estacionamento certificando-se de que não havia mais ninguém ali, e na parede atrás de seu carro lê uma pichação onde estava escrito: “Deixei de amar meu país e aprendi a amar o mundo”, e lembrara-se de toda a discussão que haviam acabado de ter Nachbar e o colega e o veredicto dado por Ludovico que nada sabia sobre o que falavam e praticamente havia dado aquela resposta sem nem olhar para a cara de qualquer um deles. Em casa sua mulher não brigou pro chegar tarde e havia dado sorte tamanha que a comida já estava pronta. Comeu e terminou bem sua noite. Estava cansado, todo o trabalho mais a cerveja o deixavam com um sono praticamente impossível de conter. Se entregou a Morfeu e descansara.

*--*

O trabalho continuava o mesmo, procuravam métodos de aumentar a produção e a produção estava realmente aumentando, aumentava pouco, mas aumentava.

Ludovico sempre era consultado fora do seu emprego, dava veredictos onde todos aceitavam muito bem. Vez por outra lia alguma revista ou o jornal, pois era uma das recomendações do programa manter-se com a mente ativa e ler revistas ou jornais já era o suficiente. Num belo dia enquanto assistia ao jornal na TV depois de ter chego em casa, vê a notícia de misteriosas pichações feitas num clínica estética que havia em sua cidade. Chama sua esposa para ver aquilo, ela assiste até o final e diz que “essa gente não tinha mais o que fazer, deve ter sido aquela gente pobre, sem educação, em vez de estudar ou ler um livro, tão ai incomodando”, “é, mas pelo que eu li das pichações só me pareceu serem contra a clínica, porque será?”, “é ainda bem que eles vão botar câmeras agora na clínica, é sempre assim esperam acontecer para depois se precaver”, concluiu sua esposa em referência a reportagem, onde terminava noticiando a instalação de câmeras na clínica.

Apesar de tudo Ludovico ficou extremamente curioso para saber ao menos quem eram as pessoas que haviam pichado aqueles escritos na clínica e se possível porque!

Na outra semana Ludovico pegou uma manhã de folga pois precisava realizar sua última etapa do programa e pegar seu certificado. A Beverly Hills agora era cercada por câmeras, os pintores estavam terminando de pintar e havia uma guarita com um segurança do lado de fora. Foi abrir a porta e ela estava trancada, olhou o horário de atendimento e viu que já era horário de atendimento e percebe que abaixo da placa havia uma campainha. Tocou-a e então a porta se abre. No saguão de espera havia outro segurança que ficava ao lado da senha. Ludovico pega uma senha e vai se sentar numa cadeira perto do final da fileira. Antes que seu lugar posso começar a esquentar o segurança vem até ele “o senhor poderia por favor se sentar na ordem da fila para seu conforto”. Foi aí então que Ludovico percebe que estavam sentados em fila e conforme alguém saia a fila andava mas todos continuavam sentados.Chega a vez de Ludovico e ele é atendido por uma daquelas cabines “Vim para concluir a última etapa e pegar meu certificado” ela gera uma nova senha e ele é levado para uma outra sala. Lá espera mais um pouco, haviam revistas para ler, ele pega uma e começa a ler, mas aí percebe que a TV estava ligada e isto atrapalhava a sua leitura, por isso desiste logo dela. Sua senha logo é chamada, entra novamente naquela sala metálica, usa novamente aquele modelo de avental que agora tinha o slogan da clínica. Deita-se sobre a mesa que continuava quente em vez de fria (apesar de metálica).

Quando termina o processo e acorda algum tempo depois, vai até a sala do médico chefe da clínica, em sua sala haviam inúmeros títulos pendurados na parede. Ele olha para Ludovico, tira uma foto dele com a câmera do computador, preenche alguns dados no computador e lhe entrega o certificado “agora tenho a garantia de que tenho o programa realizado em mim não é mesmo?” pergunta Ludovico com relativo alívio, “bem, na verdade este certificado apenas garante que você fez o programa conosco, não que ele foi efetivo em você”, “quer dizer que pode ser que o programa não tenha dado certo em mim?”, “é... para ser sincero poucas pessoas atingem os 100% de eficiência, é difícil, algumas pessoas conseguem mas é difícil, a maioria tem um aumento considerável já, o que é bem claro. Bem também começamos a levantar dados recentemente e o próprio programa é recente. Mas então, seria isso, o senhor gostaria de mais alguma coisa?” encerra a conversa o médico chefe já estendendo a mão para cumprimentar Ludovico. Perguntas e dúvidas ele tinha algumas, mas devido a algum motivo ele estende a mão e vai embora. Nunca mais viu aquele médico.

*--*

Como o programa que Ludovico havia feito lhe cobrava certas práticas culturais vez por outra procurava algo na seção de cultura no jornal. Como levava muito a sério todo o investimento que havia feito e não queria desperdiçar aquele dinheiro constantemente procurava por atividades culturais na cidade. Viu que teria uma semana de cinema. Começaria na terça-feira e iria até o domingo, viu que era intinerante e que por isso logo iria embora de sua cidade e perderia esta chance de assistir aqueles filmes. O bom é que era num horário após seu expediente e próximo ao seu trabalho, poderia ir a pé e dava tempo de parar num café.

Dá o horário do fim do expediente e tranquilamente vai até o elevador, no caminho encontra Nachbar seu antigo vizinho de biombo e o convida para ir junto com ele. Nachbar aceita e vão juntos. Descem pelo elevador que a esta hora estava lotado, cheio de gente. Ludovico vai direto para o saída do prédio e Nachbar pergunta:

- Hei Ludovico você não vai pegar o carro?

- Não precisa é aqui perto e quero comer algo antes.

- é aonde mesmo?

- Perto do café Bäckarei.

- Tem certeza que não queres ir de carro?

- Não vamos caminhar um pouco.

E Nachbar aceita ir caminhando até o café Bäckarei. Como era horário de fim de expediente o trânsito estava uma loucura, apesar de engarrafado havia espaços “livres” como se fossem bolsões de vácuo e ali nestes espaços os carros corriam muito rápido, disputavam lugar na fila:

- Quando eu era pequeno vinha com minha mãe no centro, daí comprávamos alguma coisa, as vezes eu ganhava algo bobo sabe, um gibi, um lego, um carrinho algo assim e depois íamos eu e ela tomar um café no Bäckarei, eu adorava o sonho que havia lá e o café deles é bom também. Você também fazia isso quando pequeno? – pergunta Ludovico para Nachbar.

- Não lembro muito bem, acho que fui algumas poucas vezes com a minha mãe no lugar.

Vão no café, Ludovico pega um salgado, um sonho e um café e sugere o mesmo para Nachbar. Escolhem uma mesa se sentam e começam a conversar:

- Sobre o que são estes filmes? – pergunta Nachbar.

- Parece ser uma mostra de filmes culturais.

- Não têm filme nacional? Olha a maioria é uma porcaria.

- É pode até ser que tenha algum. Na verdade vi no jornal e não explicava muito bem, é uma amostra de cinema intinerante realizada por um grupo de cineastas daqui e eles vão passando filmes arte. Era isso que tinha no jornal, ah e que era de terça até domingo e começa a tempo de sair do trabalho e ainda tomar um café. Quando vi o horário só pensava nisto!

Nachbar dá uma risadinha.

Terminam o café e vão assistir ao filme. Chegam algum tempo antes do filme começar e podem conversar um pouco. Ganham um folheto com uma pequena sinopse e outras informações sobre o filme. O que seria exibido naquele dia não era nacional, na verdade eles intercalaram um filme estrangeiro com um nacional. O daquele dia seria um filme feito na Polônia e tratava sobre um sujeito que começa a fazer filmes e se transforma em cineasta.

Quando o filme acaba os organizadores fazem um pequeno bate-papo com o público e respondem algumas perguntas. Logo tudo acaba e Ludovico e Nachbar voltam até o escritório para pegarem seus carros. A rua já estava bem mais tranqüila. No caminho conversam um pouco, “e o que você achou do filme Nachbar”, “Achei um saco, muito tedioso, ta na cara que aquilo ali é ficção, desde quando um operário ignorante vai virar cineasta, eles não devem saber nem segurar uma câmera, muito menos entender de algo artístico como o cinema” lhe responde seu antigo vizinho, “mas o filme me pareceu muito bom, antes de mais nada é uma boa história. E pelo que foi conversado depois do filme o roteiro é baseado na vida do cineasta mesmo, então aquilo ali não é tão sonhador assim”, “eles disseram isso é? Bem, não quis dizer que é uma mentira, mas ele deve ter feito assim para ficar uma história bonita também”. Não conversam mais sobre o filme. Cada um pegou seu carro e foi para sua casa, no outro dia teriam que trabalhar e Ludovico teria que pensar em algo para Nachbar e outros como ele produzirem mais sem a empresa gastar mais por isso.

*--*

Ludovico havia gostado tanto do filme e Nachbar não havia dado a mínima. Ele se sentiu culpado e se sentiu de certa forma culpado por poder ser alguém que não entendia nada de cinema ou arte, pensou se este programa que havia feito havia adiantado para alguma coisa, pois se sentia naquele momento tão insuficiente e debilitado quanto antes. O cansaço lhe atacava. Em casa pensava sobre isto o tempo todo, mas preferiu não comentar nada com sua esposa, pois isso seria uma discussão sobre um problema e poderia terminar em alguma discussão com ela, talvez pior do que quando se negara a realizar o programa.

Assim que chega no trabalho vai até a sua sala e 15 minutos depois é convocada uma nova reunião, era referente aos dados levantados. Ludovico logo se apronta e chega junto com Pablo, um dos membros da equipe que também havia feito o programa e era o segundo em comando. Ele elogia Ludovico por ter sido o primeiro a chegar depois dele. Isto o deixou confiante. Conversam um pouco sobre o final de semana e alguns programas que passaram na TV. Os outros colegas vão chegando e o assunto vai mudando, Fabiana fala da viagem que está programando com seu marido. Vão para um lugar tropical, paradisíaco, ele começa falando da viajem e termina com todos a seu redor conversando e debatendo sobre os free shops que tem nos aeroportos. Faltando alguns poucos minutos chega William o único membro da equipe que não havia passado pelo programa novo. Nisto Pablo faz um comentário a respeito das pessoas que não passam pelo programa e seu baixo Q.I. e capacidade, Ludovico lembra de Nachbar e dá uma risadinha junto com Pablo. A reunião começa e debatem sobre os dados. Pensam em várias políticas de produtividade e publicidade.

Após o final da reunião Ludovico convida Pablo para ir assistir o filme que passaria hoje no festival, “não sei se vai dar, pois estou com pouco dinheiro hoje aqui comigo e esqueci o cartão em casa”, “Mas é de graça, não precisa pagar para ir assistir” responde Ludovico, que após este ótimo argumento convence quase que de instantâneo Pablo.

Terminam o expediente e vão juntos até o pequeno festival. Comem algo antes e vão assistir o filme. O lugar tinha aproximadamente o mesmo tanto de gente que no outro dia. Depois teve aquela fala dos organizadores e as perguntas feitas pelos espectadores. Tudo termina e Ludovico e Pablo vão voltando para o escritório pegar seus carros:

- O que você achou do filme Pablo?

- é legal até, mas achei ele meio parado.

- É eu vi você piscando os olhos de sono. Mas gostasse do filme?

- Prefiro aqueles que passam no cinema normal, precisa pagar, mas eu gosto mais deles, então vale mais a pena, sem falar que já seleciona o público, porque ali tinha algumas pessoas esquisitas, não fui com a cara delas.

Ludovico novamente desiste de insistir sobre o filme, cada um vai para sua casa, pois no outro dia teriam que trabalhar.

*--*

Aperta o botão do elevador. Enquanto aguarda Nachbar aparece, “bom dia” dizem um para o outro. Nada de novo apenas mais um dia no trabalho, tudo seguia normal. O típico “bom dia”, mesmo recebido por aquela pessoa que lhe odeia e te inveja, e você diz o mesmo para quem você odeia e inveja.

Pela manhã tiveram outra reunião, publicidade, produtividade, metas... normal. Na hora do almoço todos saíram para ir com algum colega a algum lugar, enquanto Ludovico foi sozinho até um pequeno café, escondido, e parecia ser novo, pois ali não fervilhava de gente. O bom daquilo tudo é que tinha uma boa janela por onde se conseguia ver o rio. Mesmo ele sendo poluído era bom olhar para ele. Nunca talvez havia se sentido assim tão sozinho, fazia tempo que não sentia tamanha solidão. Lembra de sua infância quando ainda não ia a escola e ficava em casa a olhar o céu azul, os pássaros e a água da chuva quando chovia. Tudo isto lhe lembrava a profunda solidão de anos que havia passado e de seu atual casamento que era algo sem cor desde o dia em que a conhecera. Havia feito um programa que lhe ajudaria no emprego o prepararia para o mercado de trabalho, mas descobriu que aquilo não lhe dava garantia nenhuma de que o programa havia sido eficaz, mesmo assim tinha um certificado, pois lhe era dado devido ao alto valor pago. Não sabia se agora era um melhor funcionário ou alguém mais esperto, ainda rastejava para o trabalho da mesma forma que antes. E mesmo entre as pessoas que haviam feito o programa não encontrava pares, por onde ia ninguém lhe agradava e ele tão pouco conseguia agradar alguém. Só algo em tanto tempo, desde antes ou depois de ter feito o programa, que havia o tocado, aqueles dois filmes que havia assistido, em especial o primeiro sobre um operário que se torna cineasta. Parecia que falavam sobre ele, sobre a solidão que sentia. Parecia ser ignorado por toda aquela gente, por toda gente que via, principalmente as que nele esbarravam e mesmo assim seguiam seu caminho como se não fosse nada, sem nem olhar para trás e pedir desculpas. Ou dar algum outro tipo de atenção...

Ao fim de seu expediente pega seu carro e vai até aquele festival queria assistir a mais um filme, mas não queria que alguém soubesse, pois simplesmente não queria e não sabia o porque, se sentia mal toda vez que lhe diziam que não gostavam em nada daquele filme que tanto lhe havia apaixonado. Neste dia era um documentário, falava sobre os griots que existem na África, sujeitos que tem toda a história de um grupo gravada em sua memória e que repassam novamente adiante de forma oral. E que historiadores profissionais sempre consultam o griot, um sujeito que por vezes é analfabeto e sabe falar somente aquele idioma de seu grupo e dorme no chão, e nele que vão buscar as fontes para seu trabalho. A comparação com os farmacêuticos que vão da mesma forma falar com as mesmas pessoas para descobrir de onde inventar um novo remédio. É dessa gente que os espanta por não terem relógios, carros ou energia elétrica, eles que tanto querem educar, são por essência a maior fonte de humanidade para aqueles cientistas que lá vão pesquisar, mesmo o griot podendo ser um analfabeto, o renomado historiador não começa sem antes conversar com ele.

FIM

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Garoto da Manhã

Pintura de Otto Dix, mais conhecido por suas pinturas referentes a 1ª guerra mundial.

***

Garoto da manhã

Porque eu não fazia parte da massa? Porque eu não conhecia nada mas achava que sabia tudo? Porque eu não era como aquelas pessoas burras, que acham que para ser inteligente, deve-se nascer inteligente? Puta merda, acho que nunca vou descobrir.

Eu já havia tentado a minha vida de várias maneiras, como músico por muito tempo. Toquei guitarra, contrabaixo elétrico, violão, teclados e cantei. Cantar foi o mais fácil de todas as coisas que eu fiz numa banda, era só chegar e cantar a musica que você mesmo escreveu, se esquecer a letra ou errar só é preciso manter a rima, são capaz de pensar que é de propósito ainda. Quase fiz um certo sucesso cantando, e olha que eu cantava tão mal quanto o Johnny Rotten.

Agora estava aqui, sentado na varanda de um apartamento, da garota que conheci noite passada. Eu era sustentado pelas mulheres, elas pagavam então não iria negar isso para elas. Não sei se eram meus olhos, minha cara de anjo ou meu corpo nem magro nem gordo, só sei que elas me adoravam. Mas nunca fiquei com nenhuma delas muito mais que um ou dois meses, eu devo ser um tremendo de um chato, ou minha pegada é muito enjoativa, uma péssima mesmo.

A garota se chamava... droga, como era mesmo a porra do nome? Heloísa, eu acho! Uma boa garota, pais ricos, corpo bonito e bem queridinha, tudo isso pelo menos por enquanto. Tinha um corpo escultural, seios na medida certa e uma bunda muito redonda, perfeita para variar posições. Ela me trazia um café agora, e eu nem precisei me levantar da cadeira da varanda da casa dela.

- Bom dia! – Falei com todo ar de alegria possível, ela estava me sustentando, tinha que ser um doce, nada difícil com essa coisa linda que tenho ai.

- Bom dia, dormiu bem? – me perguntou Heloísa alegre.

- Sendo bem sincero Heloísa, contigo foi ainda melhor!

Sempre usando essas bajulações baratas que eu adoro fazer, e elas mais ainda de ouvir. Era ótimo, estava tão bom que hoje eu nem iria trabalhar, eles que me demitissem, estava cansado de trabalhar como caixa do posto perto do shopping da cidade, me pagavam apenas R$456 por mês, isso trabalhando 8 horas. Tem um amigo meu que está ganhando 780 contos por mês, mais 120 reais de vale alimentação, e ainda por cima trabalha 6 horas! Vou falar com ele qualquer hora.

Ela me serviu um café muito bom, café com creme e canela e para comer um mamão com granolas e mel. Essa pelo menos não era louca. Havíamos transado ontem três vezes. Estava muito bem ontem, ainda mais tomando todas aquelas anfetaminas.

Terminei de comer e precisava ir embora:

- Heloísa, preciso ir para casa, tenho que resolver alguns problemas.

- Tu já vai? Não vai nem me dar um tchau de verdade antes?

Essa garota realmente havia gostado de mim, com tanto que sentou no meu colo e me deu aquele beijo. Passei a minha mão pelos seus seios e o corpo inteiro. Entramos de volta para dentro de sua casa e transamos no sofá da sala mais uma vez antes de eu ter que ir embora. E então eu fui.