domingo, 30 de outubro de 2011

O melhor caminho




     Numa das edições que assitia do programa de Nachbin passagem para, onde ele aborda destinos incomuns e tem a atenção em entrevistar pessoas originárias daquele país que hoje moram no Brasil, e junto com sua reportagem a entrevista feita dá os devidos complementos ao que se assiste, me deparei com uma situação curiosa. Por acaso peguei o programa da sua visita a Mongólia. Para quem não sabe a Mongólia fez parte da URSS, mas hoje tem seu mercado aberto. Num dado momento em que conversavam sobre o regime socialista pelo qual passara o país, depois da tradicional fala sobre a educação, habitação, emprego e todos estes cuidados que havia por parte do Estado surge a tradicional pergunta da qual eu já me perguntava: “E a liberdade de expressão, por exemplo na imprensa, sofria alguma restrição?”. Eu mesmo já pensava nesta pergunta, tema recorrente ao se abordar países que são ou algum dia foram socialistas – não vou entrar aqui na questão do socialismo real e afins. A resposta me foi surpreendente: “Não... não havia nada...”. Bem, pode ser que eles estavam equivocados, pois eu acredito que havia censura, senão isso uma manipulação ou coisa que o valha, como temos na nossa imprensa "livre-democrática". Não tenho dúvidas. Mas a resposta me levou a pensar mais sobriamente algo que já matutava na minha cabeça fazia tempo.
     Geralmente ao se falar do socialismo se traz os ótimos índices sociais da antiga União Soviética ou de Cuba, alfabetização em 99%, sistema de saúde ótimo, população devidamente abrigada e etc. Ora se param por ai todos sairemos tatuando foices e martelos. Mas, logo em seguida se desvela todo um estado policial, que seria algo que viria junto ao “pacote do socialismo” e exclusivo a ele, como a censura, que é ignorada na análise do capitalismo, assim como a não liberdade de se comprar o que quiser, elemento base do capitalismo. O que geralmente acaba se expressando nestas análises rasas (para não dizer tendenciosas) é: “comunismo é bacana, teoria interessante que não funciona na prática, por isso é uma utopia (não crível, coisa de vagabundo, nem vale a pena tentar). Capitalismo é a melhor opção, apesar da grande pobreza do capitalismo, temos a liberdade!”, deixando solto no ar a ideia de que o livre mercado garante a liberdade das pessoas e que a repressão ocorre apenas na medida certa e necessária.
     Antes que me chamem de petista, comunista ou me mandarem para Cuba ou China (se já não o fizeram), pretendo deixar claro de que sim, estes lugares não são paraísos na terra, assim como os EUA ou algum país da União Europeia também não são. Pode ter certeza de que não me agrada a ideia de morar na Coreia do Norte. 
     Temos em 90% das discussões sobre o capitalismo X Comunismo a defesa de um dos lados, que se resumem por fim em EUA e URSS (ainda hoje tem gente falando em URSS com olhos emocionados, seja com lágrimas ou fogo dentro deles). A liberdade do capitalismo se mostra por fim mais ampla que a do socialismo, pois este último é obrigatoriamente ditatorial e opressor. Logo é melhor abrirmos mão de todos aqueles benefícios iluministas e abraçarmos a liberdade do capitalismo, mesmo que esta se restrinja ao mercado.
     O que me desagrada nesta crítica ao socialismo, é a sua potência conformista: “Já temos a liberdade e a democracia, fiquem tranquilos que ela está em boas mãos, nem pensem e exercer estes direitos, a não ser o do livre mercado”; que para boa parte da população se resume a comprar o que quiser, inclusive uma porcaria de plano telefônico que te vendem sem lhe mostrarem contrato algum ou pedir assinatura alguma... se não bastasse sua palavra contra a da operadora nunca vale nada, enquanto a operadora pode até mesmo gravar a tal conversa - agora pede uma cópia e me diga qual a resposta.
     Em resumo esta crítica rasa ao socialismo leva a um conformismo que me incomoda. Gerando a crença de que esta democracia burguesa é a melhor opção. Não por acaso que quando das movimentações populares no mundo árabe, antes de perguntarem a qualquer um deles onde querem chegar, já noticiam que pretendem a democracia ocidental capitalista, e me parece haver uma pressão para isto. Falam do socialismo como impossibilidade devido a suas crises (censura, uma Cuba pobre - que esquecem de dizer: sempre foi um país pobre...), mas eu lhes pergunto como vai a capitalista Nigéria, o capitalista Egito, a capitalista Indonésia? Não temos pobreza, corrupção, fome, censura, ditadura e tudo o mais? E isto justifica a descrença dos neoliberalistas no capitalismo? Alguém já assistiu alguma reportagem de algum país pobre capitalista, associando sua pobreza ao capitalismo? Se ressalta constantemente que durante nosso último período ditatorial (entre 1964-1985) estávamos alinhados ao capitalismo?  Deixo no ar.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Um filme qualquer

Não existem fórmulas para escrever, pois se existissem só precisaríamos jogar as palavras na fórmula e esperar o texto sair. Porém é inegável a existência de lugares comuns nos textos, ou melhor dizendo, roteiros. Especialmente no que diz respeito ao cinema e novelas, mas isto não deve ser novidade para ninguém. Não pretendo ensinar aqui como escrever um texto, até porque acredito que para isso não há nada melhor do que a prática, também não vou entrar no mérito destes lugares darem um desenrolar previsível a história. Vou tentar falar um pouco do que estes lugares comuns acabam reforçando.

Creio que os filmes voltados para, ou com temática adolescente são os menos criativos devido ao seu abuso por lugares comuns. Não importa se o filme tem como ambiência o high school ou a universidade, além de utilizarem atores da mesma faixa etária para ambos, temos uma bipolarização simples entre os “descolados”, bonitos, festeiros e motorizados, geralmente ligados a algum esporte ou fraternidade. Em oposição ao outro lado disto tudo que são os nerds. Bem nada de novo nisto, nem mesmo no fato de algum nerd depois de passar por alguma transformação, igualzinha a que vemos na televisão quando pegam alguém na rua, acaba ficando bonito e se tornando um dos descolados. Além disso antes ele é uma pessoa infeliz e caricata, que novamente igual aos programas de televisão a foto antes da transformação sempre é séria e sem sorriso.

Nos casos em que vão aparecer mulheres sua importância é claramente reduzida a sua aparência, enquanto ela é feia sua atuação é desajeitada e sua existência frustrada, porém após a sua transformação, numa espécie de Frankstein inverso, não só somem o aparelho e os óculos como também os tropeções, perdigotos e diálogo.

Apesar dos roteiros colocarem uma situação de binarismo, oposição entre os dois grupos criando uma pequeno clima de guerra, infelizmente naturalizado. Pois ao final de tudo o que os não descolados desejam é nada menos do que se tornar um descolado, por algum motivo não explicado seus gostos que não passam pela cultura de massa e sua aplicação aos estudos se dá unicamente pelo fato de não serem pessoas bonitas, festeiras e motorizadas. É horrível como é desmerecida qualquer forma de comportamento que não é a das lideres de torcida ou membros de uma famosa fraternidade. Isto se mostra bem com o final feliz, onde o pessoal nerd se torna descolado e o líder perverso dos descolados acaba indo para o lugar dos até então desprezados, não bronzeados e não motorizados nerds, como se houvesse uma hierarquia não escrita mas que todos conseguem ler.

Filmes que acabam reforçando esteriótipos que são buscados de forma doentia. Lembro por exemplo dos meus tempos de escola em que se desejava um time de futebol americano no colégio com direito a líderes de torcida e carteira de motorista aos 16 anos. Antes mesmo de serem testadas as habilidades de cada um, seja como líder de torcida ou atleta, fora dado para cada qual seu papel, que obviamente se dava devido ao papel exercido na escola ou sala de aula, reproduzindo de forma tosca esta pasta base para estes filmes fast-food estadounienses, que de uma forma ou de outra vão acabar refletindo na forma de ser jovem do momento, desde o culto ao carro quando as curvas dos meninos e meninas com mais de 25 anos, feitos com muito silicone e academia. Vemos isto na rua, na internet e até mesmo em piadas, que acabam ganhando seu contorno de neutros devido a entrarem nos recortes do entretenimento que acabam dando como resposta a qualquer crítica, não importa onde, just fun. Reproduzindo ao final toda a desconsideração para aquilo que não seja sexo, bebidas alcoólicas e carros – apoiados em muito desperdício.