terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Os Donos da Terra

O clássico Rugendas, que todo livro didático de história do Brasil traz (ao lado de Debret).
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OS DONOS DA TERRA


Eu, meu irmão e mais três amigos havíamos saído de casa para ir procurar um pouco de comida na mata. Vivíamos no meio da selva. Caminhamos um bom tempo até uma clareira que não existia da última vez que havíamos estado próximos do grande rio, e para nossa maior surpresa ainda, esta clareira estava cheia de comida, toda ela agrupada ali, igual a quando plantávamos mandioca.

- Vamos pegar, vamos aproveitar e levar bastante para não termos que caminhar tudo isto de volta pela mata.

Fomos pegando o que podíamos. Ouvi um barulho como o de um porco do mato. Havia deixado o que eu colhi separado num canto e avisei que logo voltaria. Caminhei a passos seguros atrás deste barulho, era um porco do mato. Berrei de felicidade, com aquele porco teríamos comida o suficiente por bastante tempo. Logo que eu berro escuto um estouro repentino, “bum” e uma voz de uma pessoa que grunhia em vez de falar. Voltei correndo para meu irmão e nossos dois amigos, vi meus amigos escondidos no mato:

- Cuidado, cuidado!

Não sabia do que falavam. Ouvi o estouro novamente, ele vinha das minhas costas. Olhei para trás e só ouvia o barulho de uma voz humana que não dizia palavra alguma, olhei para frente e vi meu irmão caído, com sangue na mão, não sabíamos como, mas saia sangue de seu braço. Meu irmão estava no chão tentando se esconder por trás de todas aquelas plantas com comida, nossos amigos nos chamaram para irmos embora, ajudei meu irmão a se levantar e corremos mato adentro. Corremos como loucos e logo deixamos de ouvir os estouros e a voz raivosa.

Chegando em casa começamos a contar aos berros para todos o que havia acontecido, tentamos falar todos ao mesmo tempo, e as mulheres berravam e corriam atrás de algo para ajudar meu irmão pois seu braço estava sangrando. Deixamos para lá o que havia acontecido e fomos cuidar definitivamente de meu irmão. Seu braço sangrava. Ficamos o dia todo a cuidar de meu irmão, rezamos por ele e o deixamos descansar.

Após algum tempo seu braço já estava bom, porém um tanto inchado, isso preocupava a mim e meu irmão. Neste meio tempo outro grupo havia ido mato adentro procurando comida e quando voltaram havia um a menos. Passou-se uma situação igual só que segundo contaram, um de nosso grupo havia se machucado na barriga e não conseguiram buscá-lo, pois sempre que chegavam perto dele o estouro se fazia presente novamente. Reunimos-nos e acabamos decidindo que deveríamos organizar um grupo e nos vingar da morte de nosso amigo. Minha esposa e filha me ajudaram a me preparar para a batalha, as esposas ajudaram seus maridos. Armamos-nos e fomos até a clareira onde haviam matado nosso amigo. Uma das pessoas que estava no dia do assassinato disse que a voz que não se podia entender vinha de uma casa. Chegando no local ele nos mostrou a casa. Cercamos o lugar e gritamos para que quem estivesse ali dentro saísse e viesse falar conosco. Não demorou muito saiu um homem feio e com pelos na cara berrando algo que não passavam de berros. Perguntávamos porque ele havia matado nosso amigo e onde ele estava, mas ele fez o barulho novamente. Não nos assustamos, apenas ficamos mais raivosos do que já estávamos e nós pusemos a atacá-lo. Tão logo ele estava morto entramos em sua casa e encontramos sua mulher, que não falava palavra alguma como gente, ficava apenas falando alto. Não fizemos nada a ela. Era uma mulher. Então fomos embora tristes, pois nosso amigo estava morto e uma nova morte não o traria de volta.