sexta-feira, 13 de abril de 2012

As coxas



A casa tinha um pequeno efeito labiríntico, parecendo que era o contorno de algo que estava do outro lado das paredes. Três garotas moravam ali, conhecia de vista uma delas, a outra um pouco melhor, sabendo até mesmo o nome. Enquanto a terceira, ele não tinha ideia de quem era. Até porque ela estava em seu quarto junto com seu namorado. Tornando exígua a possibilidade de efetuar tal empreitada. Ele não lembrava como ou porque estava ali dentro do apartamento das duas garotas. Num esforço em entender tal situação, ele só lembrava das duas o conduzindo ao apartamento. O conduziram da melhor maneira que fazem as mulheres, com sorrisos e toques. Ambas revelavam certo desejo ou volúpia, e Roberto sempre soube apreciar mulheres de fibra, que sabiam pegar num homem, que não eram delicadas feito damas e tão pouco tinham sonhos de princesa. “Mulheres que usam calça”, como dissera certa vez para um amigo, explicando que se encantava por quase toda mulher que fosse o oposto da feminina, que por sua vez trajaria saia e salto alto, “Quero calça e tênis”, disse para encerrar.
Andavam todos pela casa feito baratas. A cozinha era como que local de passagem, repartindo os dois quartos e a sala e o outro quarto. Em resumo era um longo corredor em formato de “L” dividido com cômodos. Como toda visita que chega a uma casa pela primeira vez e não tem a devida intimidade, revezava-se em seguir as duas garotas que o haviam arrastado para o apartamento. E elas pareciam se divertir muito com isto tudo, dando risadinhas e sorrisos enquanto chamavam a terceira garota, perguntando por algo, ligando e desligando a tevê, ou abrindo janelas. Do orifício na parede que ficava próximo a sala vinha a brisa do mar, que não estava tão longe. Num destes corres-corres sem sentido pela casa, ele foi em busca da que ele melhor conhecia. Saiu da cozinha onde bebia água da pia, passou pela sala ignorando e sendo ignorado pela segunda garota e foi até o quarto da que ele sabia o nome. No quarto ela trajava apenas calcinha e uma camiseta regata, e parecia que assim pretendia ficar. Junto com ele viera a segunda garota, ambas conversavam freneticamente sobre alguma coisa para o cabelo e garrafas de vinho. Roberto tentava disfarçar, mas não deixava de medir o corpo dela com os olhos. Sempre odiara machistas. Não queria ser um desses homens que acreditam que mulher pelada quer sexo, e se quer sexo é puta, e se é puta deve apanhar, ser maltratada. Nunca gostara deste pensamento, preferia ver as mulheres de fibra, e que sim, da mesma forma que homens, gostavam de sexo, se masturbavam e ficavam bêbadas.
Seus olhos não deixavam de seguir a circunferência das coxas, queria pegar aquelas coxas com as mãos e apertar, ver se eram assim tão caprichosas. Vendo ele sabia que suas mãos não bastavam, sem contudo serem as coxas grandes demais beirando ao hecatombe. Eram, como preferia colocar, fartas, prazerosas. Exagero talvez, mas estava longe de ser algo feio ou que beirasse ao desperdício de carne. A vontade era apertar aquela coxa até escorrer por entre os dedos, acariciar aquela pele que parecia tão macia. Pressionar as nádegas contra a bacia enquanto apalpava aquelas pernas e o resto do corpo. O fato dela estar de calcinha e camiseta o desconcertava, mas não pelo fato de ela estar sem as calças, mas sim pelo fato de que ele não conseguia ver uma mulher seminua. Por mais que buscasse entender ou se justificar, não estava preparado para ver tamanhas coxas desnudas.
As duas tagarelavam, e Roberto olhava as coxas atônito. As duas percebiam e riam, não buscavam esconder seu riso. E ela sua coxa. Foram feitos baratas para o sofá. A garota que ele sabia o nome levantou-se depois de um tempo sentada e foi para a cozinha anunciando que ia pegar o vinho. Roberto e a outra garota se entreolharam, riram feito crianças que fazem cócegas umas nas outras e foram ajudar sua amiga com o vinho. Ela conseguiu sacar a rolha sem grandes problemas. A garrafa estava acompanhada de copos desde o “poc” que faz o vinho ao ser aberto. O cheiro era bom, o gosto era bom. Pegaram um pouco de pão cada um, para encher a barriga vazia, e voltaram para a sala, Roberto é claro acompanhava com o rabo do olho a parte traseira das coxas e aquelas nádegas tão impressionantes quanto as fartas pernas. As duas o dominavam de tal forma que o instalaram certinho no meio das duas. No começo a televisão estava ligada em algum canal que nenhum deles assistia. A amiga da que usava apenas sua calcinha e camiseta regata levantou-se depois de poucos minutos e alguns goles, e resolveu desligar a tevê para ligar o rádio, onde tocava um música de fundo.
O sofá não chegava a ser apertado, mas era pequeno, o que fazia com que um corpo caísse facilmente sobre o outro. Roberto sentia as coxas quentes das duas encostando nas suas. O vinho que bebiam esquentava a alma. Apesar do verão já ter acabado, o calor ainda era mais presente do que o frio. “Será que é por isso que ela está de calcinha?”, chegou a cogitar Roberto durante alguns segundos, “não, certo que não é EXCLUSIVAMENTE por isso”, e concluiu seu pensamento como que num arremate, “mas não significa que seja APENAS por mim”. A passividade em que se instalava Roberto deixava as duas cada vez mais risonhas, animadas e calorosas, conforme todos bebiam o vinho e ninguém dizia palavra alguma sobre sexo. As duas pareciam se divertir. Quando um pouco de silêncio começou, deixando transparecer ao fundo a música do Belle & Sebastian que tocava, Roberto vira aquela beleza de pernas se levantar, observou os poucos segundos que a arquitetura do apartamento lhe permitia ver das belas nádegas dançando em perfeita sintonia com aquela infinidade de coxas. Só então ele percebera a beleza de costas que ela tinha, dava vontade de morder as costas, começando pelo pescoço. A segunda garota ficou o encarando e rindo, bancando o inocente Roberto pergunta com sincera malícia, “que foi?”. Como resposta ela derrama vinho no pescoço dele e o bebe. Ela mordia forte, mas não o suficiente para deixar marcas. Como retribuição Roberto derrama vinho na nuca dela e faz o mesmo. Dava para ver pelas bochechas flexionadas que ela mordia o lábio inferior. O vinho é claro, escoria por outras partes do corpo, e pouco dele se bebia assim.
Quando a outra voltou a amiga que estava no sofá chamou dizendo: “Olha só isso”, e derramou o vinho no braço dele e bebeu como fizera da outra vez. Ela riu, quase deixando escapar o vinho que acabara de botar na boca. Como ela ria, os dois que estavam no sofá se apertavam, ela muito mais do que ele. Olhando os dois se apertando e rindo, dando beliscos na barriga um do outro, ela desceu até o sofá, deixando a todos mais próximos devido a suas belas ancas. Roberto não queria mais perder tempo, derramou o vinho no pescoço da garota que olhava desde que entrou no apartamento e o bebeu. Ela sorriu de forma inocente e perguntou “Não vais beber tudo?”. Assim que terminou de ouvir a frase Roberto fitou a enorme gota que escapou e ficou nos peitos, riu e bebeu o vinho com força, lambendo aquela pele, que agora sabia ele era macia. Seu pênis ficou ereto, dava para perceber pelo relevo da calça. As duas já não riam mais, começaram a morder o pescoço dele, apalpavam aquelas coxas másculas que ainda tinham algo de músculo. Vez por outra alguma das quatro mãos acariciavam sua genitália, puxando a cabeça com as delicadas pontas dos dedos. O único lamento de Roberto era o fato de ter somente duas mãos, de não dar conta daquelas duas, seu corpo o impedia, não o seu fôlego. O vinho repousava no fundo de cada copo jogado em algum canto daquela pequena sala, ninguém os via e podiam fazer o que bem entendessem. Pouco tempo depois de sentir as mãos em seu pênis, Roberto se virou para aquela que desde o início povoou sua imaginação depravada, apalpou os seios fartos, e desceu sua mão vagarosamente até as coxas. As apertou com força, como queria desde sempre. Passou as duas mãos por dentro da calcinha, sentindo o calor do corpo dela. Enquanto a outra garota o beijava na nuca e apertava sua bunda, pegando com a segunda mão no seu pau, ele virou a garota das coxas, abriu sua braguilha deixando seu pinto já rijo e ereto para fora, e começou a abaixar aquela calcinha que tanto o incomodara e provocara, esfregando seu pinto naquelas nádegas tão imponentes quanto as coxas. Sem contudo penetrar.
O momento era propício, o vinho estava alto, esquentou o corpo o obrigando a despir-se. Todos já gemiam baixinho, pedindo por mais carne, mais sexo, mais coxas. Quando ele sentiu a mão daquela que lhe reservava as espaldas apalpar seu pênis e o conduzir para o sexo, e a outra começava a o despir, deixando-o sem sua camisa fazendo para isso tamanha confusão. E sem que se perceba uma voz vinda da cozinha se manifesta em alto tom: “Ai meu Deus, o que vocês estão fazendo na minha sala?”. Apesar de terrem ouvido os três não pararam no começo, apenas reduziram o ritmo para ouvirem em seguida: “Ei seus tarados, parem com isso!”, ai então as braguilhas fecharam, as calcinhas subiram e as camisas desceram. Ninguém disse palavra, todos os três ficaram mudos ante a outra companheira de apartamento que até então Roberto nem imaginava quem era e tão pouco imaginava conhecer nesta noite. Agora nesta cabulosa situação a descobria. A garota que mais estava vestida foi até a televisão e a ligou, ignorando completamente a cara de ojeriza e cólera da terceira. Todos se sentaram, procurando ignorar. Ela por sua vez começou a falar em tom imperativo, xingá-los pela cena na qual acabavam de atuar os três corpos vermelhos do vinho. Ambos ficavam quietos como se assistissem televisão desde que haviam chegou. Então a terceira garota começa a berrar, alto, em tom enfurecido, e dirigindo-se para a frente da televisão procurando obrigar aos três que os vissem, sem contudo desligar o aparelho. Poucos segundos depois do primeiro bero aparece o namorado dela sem camisa, a abraçando e perguntando o que aconteceu, ela apontou para os três no sofá, começou a chorar, ficou vermelha. O namorado a abraça procurando dar abrigo e apoio. Um dedo torto e com unhas grandes, pintadas e cuidadas, em resumo completamente diferente da unhas das duas, que apesar de cuidadas não chegavam a tal exagero, apontava para Roberto. Apesar do dedo estar torto era para ele que o dedo inqueria. Não foi dita palavra alguma para o entendimento da situação. O namorado da terceira garota olhou feio para Roberto, de maneira que seus músculos flexionavam, o concluiu: “Fora daqui”. Roberto no seu ato de coragem deu um beijo de língua em cada um das duas, fechou decentemente sua braguilha, levantou e deu mais um beijo na testa de cada uma das duas, que retribuíram com aqueles encantadores sorrisos que por pressuposto o conduziram até ali. Sem mais palavra alguma, Roberto galgou seu caminho até a rua. O namorado que já providenciara uma camisa, escondendo os rijos músculos, levantou-se e o seguiu com o olhar até a porta. Conforme Roberto descia a rampa do apartamento que o levava até a rua, ouviu a porta abrir e sentia o olhar inquisidor do namorado. Ao virar a curva para a rua escutou a batida da porta fechando, seu alívio era a calma com que aquela porta fechou. Caminhou até a praia, na parte escura e deserta dela, onde as pessoas iam para usar drogas no inverno. Ali sentou e conforme avistava as luzes dos navios na longura do mar, rememorou o que aconteceu, tentando entender e se sentindo culpado por ter saído tão obedientemente. Justificando para si repetia na cabeça: “foi o choque, foi o choque”.