Todo dia milhões de crianças e milhares de adultos são torturados
em nome de algo muito importante e digno, porém que sabemos não
surtir efeito algum. Os resultados disso vemos todo dia por ai em
vários setores e de várias formas, desde o direto consumo de
anti-depressivos até péssimos profissionais e pessoas privadas de
um mínimo de cidadania. Pode parecer exagero, mas isto tudo está
ligado a escola, seja de uma forma ou seja de outra.
O primeiro item a levarmos em consideração é o de que sim, uma
educação é fundamental, seja pela formação de uma pessoa
enquanto indivíduo, seja pelas necessidades do mercado de trabalho.
O segundo item a ser levado em consideração, e este é muitas vezes
esquecido, da forma que as escolas estão não tem mais jeito. Ainda
seguimos um modelo criado nas entranhas da revolução francesa, e o
resultado já sabemos: vê-se de tudo e não se aprende nada.
Devido a distância que mantemos da escola, acabamos esquecendo
muitas vezes como ela é. Recordo de maneira rápida: torturante,
angustiante, humilhante. Como durante a maior parte da minha vida fui
aluno, acreditava que isto era algo restrito aos alunos, porém agora
que sinto a experiência de professor lhes afirmo o óbvio que parece
ser tão relevado: alunos e professores odeiam a escola. Entretanto
alunos estão dispostos a aprender, não todos é verdade, mas muito
deles estão. Porém fatores e mais fatores acabam desestimulando os
alunos, e não é um professor mais “dinâmico” que vai resolver
a situação. Até pelo fato de que entre a maior parcela dos
professores podemos perceber uma vontade por lecionar, há um prazer
nisso, mesmo sendo inegável a má formação de muitos professores.
Eu me incluo entre estas pessoas que gostam de lecionar, mas sei que
um dos meus maiores obstáculos toda vez que vou dar aulas é este
formato torturante que não ensina nada a não ser criar um saco de
paciência bem grande, a ficar quieto sentado, a controlar suas
necessidades fisiológicas e a portar-se da forma habitual sob o
menor sinal de autoridade – e isto vale para alunos e professores.
Para quem está faz algum tempo fora de uma sala de aula, lhes peço
para recordarem como eram seus tempos de estudo, não da faculdade,
da escola mesmo, ensinos fundamental e médio.
Cito um exemplo comum no campo empresarial; se temos um negócio que
não está atingindo os lucros desejados as alternativas mais comuns
são duas: ou fecha-se este empreendimento declarando sua falência,
ou muda-se a forma com que tal negócio é empreendido. Ora, lhes
pergunto, se a escola não funciona do jeito que está, porque
insistimos nela? Abrir mão do ensino nós não queremos, por isso me
questiono porque não acabamos com o formato de escola que ai está e
criamos algo novo?
Sejamos sinceros, quarenta e cinco minutos não é tempo suficiente
para se aprender algo, entretanto para quem não quer aprender, estes
quarenta e cinco minutos são equivalentes a uma silenciosa tortura,
e imagine noventa minutos. Sinto na pele uma diferença nítida, e
lhes afirmo, são questões notáveis. Porque não temos uma divisão,
que em vez de respeitar a lógica das idades (séries) respeite a
lógica dos interesses (assuntos)? Quer aprender matemática
financeira, vá assistir aulas de matemática financeira, quer
aprender sobre a história da China antiga, vá ver aulas sobre a
China antiga, se tem interesse em aprender latim que assista aulas de
latim, e assim sucessivamente. Teremos alunos interessados, o que
gera um empenho muito maior por parte dos alunos, tornando o ambiente
de sala de aula mais confortável e produtivo para educandos e
educadores. Isto óbvio, não poderia ser desde o princípio, uma
base é importante, claro. Mas depois de certa idade, já temos uma
noção do que gostamos ou não, do que queremos e do que não
queremos. Tal necessidade de decisão por parte dos alunos já gera
um desenvolvimento da maturidade, da responsabilidade.
Mesmo assim você pode fazer parte do clube que vê a escola com
olhares conspirativos, “querem que o povo seja burro mesmo”,
“isto serve apenas para formar mão de obra”, “é uma maneira
de disciplinar o povo”. Afirmo que faço um olhar simpático (se é
que não me incluo ai) para esta forma de olhar a escola. Instrumento
de manipulação e continuam investindo nela, porque sim, ela vêm
funcionando exatamente como “eles” querem. Concordo que este
argumento é plausível, mas fica a questão: nós enquanto sociedade
queremos o que? Atender índices para que o MEC não perca
financiamentos do FMI e outras entidades internacionais ligadas ao
capitalismo global que vivemos hoje em dia? Porque nenhum país, até
mesmo Cuba que se propõem a outro formato de sociedade, tem um
formato diferente de escola? Só para lembrar, escolas que adotam
estes sistemas alternativos de ensino alcançam índices excelentes
de aprendizado, vide experiências de autodidatas ou da escola da
ponte.
De forma geral temos uma estrutural educacional estrangulada. Platão,
Sócrates, Da Vinci, Copérnico, Tomás de Aquino e Bhaskara
aprenderam, tiveram professores, e até podemos dizer que eles foram
para escola, mas sem sombra de dúvidas ela não era neste formato
que temos hoje.