quarta-feira, 30 de março de 2011

Fim de Tarde (conto)

Pintura da portuguesa Maria Helena Vieira da Silva
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FIM DE TARDE

Você está pronto? Ficava a me perguntar, dentro de minha cabeça, este eco “estou pronto! Estou pronto?”, sem saber se era sim ou não. Dois amigos meus foram até as pedras da praias, era o final da tarde e dava para sentir todo o calor irradiando do chão. Éramos eu, Antônio e um parente holandês dele. Nossa pele branca pintada de vermelho, os cabelos claros, porém não loiros, isto somado ao corpo forte de Antônio e seu primo. Diziam eles que as pedras sempre eram o melhor lugar para fumar, que era confortável ali. Pulamos pelas pedras até um canto isolado d’onde se via toda a praia, dali a água era limpa e sem esgoto, lá dava para ver toda a sujeira. Uma vez tinha visto uma foto dos anos 1950 daquela praia, lembrar dela faz o coração doer, o passado muitas vezes se faz esquecer. O primo de Antônio bolou, tinha trazido um papel da Holanda, lá é liberado. Enquanto os dois esmugavam e preparavam o cigarro, eu tirei minha camiseta e a deitei sobre a pedra quente e apoiei minhas costas sobre ela. Dava para ver os barcos passando, ouvir os carros passando na rodovia ali perto, mas mesmo assim graças a uma mata entre as pedras e a estrada, nos sentíamos seguros ali.

- é mas o problema de ser liberado é que vai começar uma sujeira desgraçada. – defendia Antônio.

- mas acaba com o tráfico nas favelas – dizia seu primo com dificuldade.

- talvez o melhor ainda seja plantar mesmo, por isso to com um pezinho lá em casa – e Antônio ria enquanto terminava de esmugar.

O primo de Antônio acendeu, puxou, prendeu, puxou e passou. Foi feito o ritual até acabar todo o cigarro. Comecei a falar sobre história, sobre os navios portugueses e espanhóis que passavam por ali, no meio da fala parei e falei “olha ali uma fragata”, e apontei para o céu. Eles começaram a rir, eu também ria e quando terminamos de rir disse, “efeito manada”, e ficaram a rir mais um bocado. Ficamos a falar e rir, dava para ver o sol pintando o mar de um vermelho cor laranja. O primo de Antônio dizia que uma vez fora para Portugal e via o nascer do sol no Atlântico e agora via o por do sol no atlântico.

Pegamos a trilha de volta e caminhamos até a casa, no caminho passou um carro da polícia e diminuiu a velocidade, mas logo aumentou e foi embora. Chegando em casa comemos o resto do pão que ali tinha. O sol já tinha ido dormir, eram quase nove horas da noite, este fora mais um fim de tarde.

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