quarta-feira, 10 de abril de 2013

Água da Chuva



As gotas de chuva, intensas caem no telhado. Dá para sentir o cheiro da cerâmica molhada, chove faz pouco e os cheiros são mais frescos e intensos. Fico olhando de longe a água escorrer no vidro. Pode parecer piada, mas isto é melhor que muita coisa por ai, como ler ou escrever. Prefiro olhar a chuva cair e a água escorrer do que trabalhar, não há dúvidas. Junto com essa chuva que escutamos cair no telhado dessa casa vazia, ainda com pouca mobília, um frio vem chegando. Dá pra sentir que ele passa mais fácil pelo vidro, este mesmo que ficamos vendo a água da chuva escorrer.
Vejo você na cozinha, sinto o cheiro do café daqui da sala. O frio começa a arrepiar minha pele, estou com menos roupa do que exige o clima, você, como sempre, está linda, mesmo usando esta roupa cinza, folgada, feia, continuas linda. Quero te abraçar, mas prefiro esperar mais um pouco, deixar pelo menos o café ficar pronto. Ainda em silêncio você me traz a xícara, com leite, sempre lembro de café com leite, era esse meu posto nas brincadeiras quando criança, não entendia porque um posto ruim tinha nome de coisa boa. Tu sentas do meu lado, eu me arrepio, e seguimos sem dizer palavra. Sem nos tocarmos bebemos e olhamos a chuva.
Tão logo as xícaras são depositadas do lado desse nosso colchão no chão, te envolvo as ancas com meu braço e em seguida, como que buscando uma conclusão do movimento, eu te abraço. Nos jogamos nesta mistura de colchão, cobertas e lençol. Agora junto com o barulho da chuva dá para escutar nossos beijos, nossa pele roçando uma na outra. Sinto com os lábios tua cartilagem, tua pele, teu pescoço. Você muitas vezes fica só parada, esperando meus beijos, eu abro um pouco os olhos e vejo você linda, o que só me faz querer te beijar mais e mais. Nos envolvemos por baixo das cobertas, feito crianças fazendo uma cabana. Isso faz com que o barulho da chuva pareça estar mais longe.
Começa a subir aquele calorão, que termina na cabeça, faz a gente querer explodir, é o melhor calor do mundo, ele é diferente do verão, da fogueira ou do aquecedor, é um calor que vem disso que chamamos de alma. Ele, assim como teus dedos, passeiam pelo meu corpo, que obedecendo tuas vontades vai ficando nu. Gosto do momento que meu peito encosta no teu, em que sinto teu calor e as batidas do teu coração. O meu bate forte, apressado, apaixonado. Nos abraçamos e nos apertamos forte, como se isso fosse um esforço pra nesse momento sermos um. Tua mão desce pela minha barriga, acaricia meus pelos, segura com carinho e puxa pra ti. Logo sinto tu daquela forma única e úmida. Te aperto procurando te imitar. Tu como sempre, vai ficando cada vez mais linda, especialmente quando depois de um tempo, sorrisos e suspiros escapam.
Não sei como mas sei que toda vez isso acontece, tu me derruba, eu caio, me acabo, desmonto. Fico sem forças, e ainda assim sinto vontade de te beijar, te abraçar e ficar mais algum tempo contigo. Tua pele e a minha se namoram mais um pouco enquanto ao som da chuva conversamos com os olhos, e pouco importa a pouca mobília e o colchão no chão porque não temos uma cama. Meu peito se abriu ao teu no momento em que se tocaram, peguei um pedaço de ti e tu um de mim, difícil negar isso, coisa que só os que não tem coração fazem. Cuida desse pedaço de mim, pois eu carrego um teu também.

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