terça-feira, 4 de outubro de 2011

Um filme qualquer

Não existem fórmulas para escrever, pois se existissem só precisaríamos jogar as palavras na fórmula e esperar o texto sair. Porém é inegável a existência de lugares comuns nos textos, ou melhor dizendo, roteiros. Especialmente no que diz respeito ao cinema e novelas, mas isto não deve ser novidade para ninguém. Não pretendo ensinar aqui como escrever um texto, até porque acredito que para isso não há nada melhor do que a prática, também não vou entrar no mérito destes lugares darem um desenrolar previsível a história. Vou tentar falar um pouco do que estes lugares comuns acabam reforçando.

Creio que os filmes voltados para, ou com temática adolescente são os menos criativos devido ao seu abuso por lugares comuns. Não importa se o filme tem como ambiência o high school ou a universidade, além de utilizarem atores da mesma faixa etária para ambos, temos uma bipolarização simples entre os “descolados”, bonitos, festeiros e motorizados, geralmente ligados a algum esporte ou fraternidade. Em oposição ao outro lado disto tudo que são os nerds. Bem nada de novo nisto, nem mesmo no fato de algum nerd depois de passar por alguma transformação, igualzinha a que vemos na televisão quando pegam alguém na rua, acaba ficando bonito e se tornando um dos descolados. Além disso antes ele é uma pessoa infeliz e caricata, que novamente igual aos programas de televisão a foto antes da transformação sempre é séria e sem sorriso.

Nos casos em que vão aparecer mulheres sua importância é claramente reduzida a sua aparência, enquanto ela é feia sua atuação é desajeitada e sua existência frustrada, porém após a sua transformação, numa espécie de Frankstein inverso, não só somem o aparelho e os óculos como também os tropeções, perdigotos e diálogo.

Apesar dos roteiros colocarem uma situação de binarismo, oposição entre os dois grupos criando uma pequeno clima de guerra, infelizmente naturalizado. Pois ao final de tudo o que os não descolados desejam é nada menos do que se tornar um descolado, por algum motivo não explicado seus gostos que não passam pela cultura de massa e sua aplicação aos estudos se dá unicamente pelo fato de não serem pessoas bonitas, festeiras e motorizadas. É horrível como é desmerecida qualquer forma de comportamento que não é a das lideres de torcida ou membros de uma famosa fraternidade. Isto se mostra bem com o final feliz, onde o pessoal nerd se torna descolado e o líder perverso dos descolados acaba indo para o lugar dos até então desprezados, não bronzeados e não motorizados nerds, como se houvesse uma hierarquia não escrita mas que todos conseguem ler.

Filmes que acabam reforçando esteriótipos que são buscados de forma doentia. Lembro por exemplo dos meus tempos de escola em que se desejava um time de futebol americano no colégio com direito a líderes de torcida e carteira de motorista aos 16 anos. Antes mesmo de serem testadas as habilidades de cada um, seja como líder de torcida ou atleta, fora dado para cada qual seu papel, que obviamente se dava devido ao papel exercido na escola ou sala de aula, reproduzindo de forma tosca esta pasta base para estes filmes fast-food estadounienses, que de uma forma ou de outra vão acabar refletindo na forma de ser jovem do momento, desde o culto ao carro quando as curvas dos meninos e meninas com mais de 25 anos, feitos com muito silicone e academia. Vemos isto na rua, na internet e até mesmo em piadas, que acabam ganhando seu contorno de neutros devido a entrarem nos recortes do entretenimento que acabam dando como resposta a qualquer crítica, não importa onde, just fun. Reproduzindo ao final toda a desconsideração para aquilo que não seja sexo, bebidas alcoólicas e carros – apoiados em muito desperdício.

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