A consciência lhe atacou, “já faz praticamente um ano”, os
aniversários afinal, servem para que lembremos. Agora todo aquele
passado parecia irreal. Não foi profundo o que ele tivera com ela,
mas ele gostou do pouco que aconteceu, foi divertido, foi bom. O frio
na barriga é algo que faz a gente continuar vivo. O engraçado é
que os dois nunca chegaram se quer a começar algo, não deu tempo,
não deu certo, por mais que tudo parecesse indicar para isso. Depois,
por milhares de coisas miúdas – e outras nem tanto – qualquer
possibilidade de se beijarem de novo se esvaiu, evaporou. Acabou. E
como sempre, sem perceber nunca mais se viram, eles que se viam
tanto, rocando mensagens, ou conversando no telefone, mesmo com ele odiando conversas
no telefone.
Depois de todo este tempo comentou com seu amigo enquanto se perdiam
num bar da cidade: “queria falar com ela”, seu amigo pergunta de
forma espantada:
- porquê?
- Ora, e eu sei lá, queria conversar.
- Mas sobre o que?
- Não sei, pedir desculpas.
- Mas tu fez alguma coisa de errado?
- Não, nada, e nem ela pra mim.
- Então porque pedir desculpas?
- É que eu me sinto um idiota, acho que por isso.
- Não, o que tu queria era uma desculpa para conversar com ela.
- É, vai ver é isso mesmo. Sabe que pensando agora o que mais sinto saudade era disso, conversar com ela. Não que fossem horríveis nossos beijos, mas não sinto falta deles.
Certo dia enquanto passava na frente da casa dela pensou em apertar o
interfone para ver se ela estava em casa, ponderou o quão bizarro
isto seria, o que ele faria? Por fim imaginou que ela poderia
entender que ele estava apaixonado por ela, que a amava loucamente, e
não queria causar uma impressão errada, como não lembrava o
número, seguiu seu caminho em linha reta.
Meses depois a viu na rodiviária, estava cheio pois já era fim de
ano, bem entre o natal e o ano novo, um alvoroço tudo aquilo. Seus
olhos a haviam visto, mas ela parecia entretida com seus pés
balançando no banco. Seu coração disparou, parecia atingido por
algo que lhe gelava a coluna. Por fim abaixou a cabeça e fingindo
não a ter visto passou próximo a ela. A garota nem o chamou, e ele
não sabia se ela fazia o mesmo ou simplesmente não o havia visto.
Nunca mais pensou nela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário