
Vestido normalmente com um jaleco branco por cima, finalmente saíra da fábrica. Havia escolhido a profissão em laboratório somente pois a carga horária diária era menor, 6 horas corridas. Fazia um calor dos diabos. Atravessa a rua, saia pouco depois das 13 horas, há uma calma monumental nessa hora, é impressionante. Do outro lado da rua fazia sombra, foi a passos rápidos para não perder o ônibus. Chegou ao ponto e ficou parado. Acima da rua viu o ônibus parado na sinaleira, esperando ela abrir. Olhou para o outro lado do muro, branco, e nele escrito em vermelho “Deus está morto”. Seu corpo tremeu, seu estômago ficou gelado e pareceu se fechar. Ficou frio.
O ônibus parou do seu lado, então entrou e passou o cartão. Maldito cartão, você comprava em dinheiro, e quando o valor do passe aumentava, você perdia dinheiro. Por isso sempre tinha pouco. Ao atravessar a catraca voltou a suar e sentir o calor infernal. Olha para o cobrador e pergunta “e o ar-condicionado, não ia ter ar-condicionado?”, ficava mais irritado com o calor. “era promessa de campanha, não tenho nada a ver com isso, reclama para o prefeito”, respondeu o cobrador fazendo careta. Foi para o fundo, não queria encontrar ninguém hoje, como de costume. Enquanto ia para o fundo daquele ônibus com 4 eixos articulados, viu o cobrador e o motorista resmungarem algo, falando mal de alguém, dele ou do prefeito que prometeu ar-condicionado e agora seu segundo mandato estava no fim, e nada de ar-condicionado nos ônibus.
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Chegou em casa, comeu a comida plastificada que sempre comia. Jogou as coisas na pia e ali deixou. Foi para o quarto olhou pela janela e foi ver TV. Trocava os canais e nada passava. Sempre lixo, o mais puro lixo. Demorou um pouco mais no canal em que aparecia uma mulher chorando. Deixou lá até o canal dar uma mininete e um emprego. Como se a vida dela estivesse resolvida agora. Depois desligou e tentou ler o jornal e revista que assinava. Novamente lixo. Havia cortado a TV paga, estava pensando em cancelar a revista e o jornal. Sua última namorada que gostava dessas coisas.
Tomou banho. Fez a janta, comeu, escovou os dentes, apagou tudo, deixou um breu. Mesmo assim entrava luz da rua. Olhou para a parede do prédio do outro lado da janela “merda de vista, quero ir embora”, e lembrou mais uma vez da frase que leu no muro, Deus está morto. Gelou o corpo. Perdeu um pouco do sono. Mas logo o cansaço o venceu e dormiu.
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Noutro dia saiu do trabalho. Olhou para a sinaleira, e não viu o ônibus. Olhou para o muro e viu que alguém havia passado tinta por cima da pixação e sobrava apenas a palavra “Deus”. Dava para ver que passaram cal por cima do resto, era nítido. Como era sexta-feira, e o calor ainda estava infernal, e em sua casa não queria o ar-condicionado ligado, pois o seu era velho e gastava muita energia, foi comer fora.
Foi até um dos setes shoppings center’s da cidade. Havia quatro lugares que vendiam hambúrguer e dois de comida mexicana. Ficou em dúvida entre os dois, até aparecer seu colega de laboratório.
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