segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Escritor

Imagem de Lucian Freud.

Bem, este como vários outros escritos têm o triste fato de acabarem sem chegar a lugar algum. Isso tira a grande graça de minhas histórias. Porém, quem disse que precisa ter sentido constante? E aquela velha questão de que tudo pode acabar do nada... mas ainda assim, essa falta de conclusão é um problema.
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O Escritor

Ele batia seus dedos na tecla. Fazia um esforço mínimo, desde a escola que não escrevia alguma estória, era o último ano na faculdade. Fazia três anos que só lia teorias. Ainda não sabia o porque escrevia aquilo.

Desprezava muito os textos literários, os considerava vazios, burros e se deveria ler muito para aprender pouco! Mesmo assim, sem mal entender, escreveu cinco páginas de um conto. Assim que terminou o leu, achou bom. Pegou o papel e foi mostrar para um amigo, na verdade conhecido se, que trabalhava como operador de digitalização na editora local, que era ali próxima:

- Então, você acha que daria para publicar? – pergunta ao cara da editora.

- Olha é bom, mas não tudo aquilo, mas é bom.

Um silêncio chocante fica entre os dois.

- Tem um sujeito – o operador rompe o silêncio – Rico até, que está montando um livro de contos...

- Quer novos talentos ou se auto promover?

- Sinceramente eu não sei, mas ele pode talvez te ajudar, muito mais do que eu – e levanta as mãos até a altura dos ombros indicando que está de mãos atadas.

Sem mais uma palavra pega seu escrito e volta para casa.

Passa uma semana, e ele volta a ler o que escreveu, parecia melhor ainda. Sentiu-se poderoso, um gênio. Pega seu telefone e liga para aquele conhecido da editora:

- Alô? – atende o operador.

- Oi, sou eu... lembra que um dia desses passei ai com um escrito meu e você havia falado sobre um homem rico que estava montando um livro...

- Você – interrompeu o operador- quer algum contato com ele, é isso?

- perfeitamente.

E o operador lhe passa o endereço “ele estará em casa, pegou férias para se dedicar ao livro”, disse a ele Desligou o telefone e foi para a cama. Rolou de um lado para o outro e não conseguia dormir. Levantou-se, foi a cozinha e tomou um copo d’água. Voltou ao quarto, sentou-se na sua escrivaninha e começou uma nova história. Esta lhe parecia tão boa quanto a outra. Acabou indo dormir tarde.

Para a sua sorte era sábado e podia acordar mais tarde, sorte sua na verdade que não trabalhava no sábado. Comeu uma maçã apresado, e foi até a casa daquele homem. A casa era num bairro nobre da cidade, próximo ao centro, todas as ruas asfaltadas, seguro e até a coleta seletiva da cidade passava lá. A casa do sujeitoque queria editar o livro fazia jus ao bairro. Percebia-se que era um pouco antiga (uns 20 anos no máximo) mas tudo do maior bom gosto e qualidade, o que faz parecer sempre “atual”.

Toca a campainha, dois cães da raça mastim napolitano vem o receber a latidos, debaixo de um flamboyant estava o dono de tudo. Descalço, com uma bermuda, camiseta de botão e um livro fino na mão, ele o recepciona:

- Pode entrar, eles são grandes mas bem mansos – dizia enquanto com uma mão o cumprimentava e a outra fazia carinho nos cachorros – aposto que viesse aqui para falar comigo sobre o livro, estou certo?

- Sim, isso mesmo.

- te disseram que era só vir, pois eu estaria de férias para me dedicar ao livro?

- Isso mesmo, exatamente.

O dono da casa faz um gesto com a mão o chamando para dentro da casa.

- Você já tomou um café da manhã hoje? – pergunta o anfitrião.

- Sim... um pouco, uma maçã.

- venha – e repetiu o gesto com a mão.

Ele tinha uma sala que fazia jus a casa também. Os dois se sentaram, frente a frente, cada qual em uma poltrona, separados por uma mesa de centro:

- Bem garoto, você veio até mim. Aposto que o Sasha – o operador, um dos poucos descendentes de ucranianos da cidade- me indicou para lhe ajudar com algum texto. Ele te contou do meu projeto, o meu livro?

- Sim, um livro de contos não é mesmo?

- É, você tem o texto em mãos para que eu possa ler?

Ele entrega as duas cópias, “este eu escrevi noite passada” disse apontando para o tal. O homem rico lê apenas a primeira página de cada, os coloca de lado e fala:

- A vida toda eu quis agradar meus pais, por isso assumi a empresa de meu pai, como desejavam. Ao assumir a empresa quis agradar a sociedade, tive uma grande paixão com uma ex-colega de faculdade, mas me casei com uma mulher mais rica que eu, como toda a sociedade e principalmente meus pais queriam. Faz cinco anos que eu me cansei dela e ela mais ainda de mim, moramos em casas separadas. Tive um filho, ele ganha a vida como músico na Grécia. Fiz tudo como queriam. Faz cinco anos que passo meu tempo livre só, isso me fez com que pudesse pensar e ler o suficiente para perceber a porcaria que era a minha vida. Mudei muito nesses cinco anos. Comecei a viver da forma mais simples que eu conseguia. Faz um mês que dei minha empresa a meu sobrinho, em troca pedi apenas uma porcentagem dos lucros, assim posso ter muito tempo livre. Como vê, eu não possuo televisão, na verdade há uma, mas apenas para ver filmes. Passo meus dias me dedicando a mim, cuidar de si, entende?

Guardei um dinheiro no passado, com ele poderei lançar o livro. A minha idéia era pegar vários textos de vários escritores, e publicar. Lógico alguns serão meus.

Subitamente a conversa ficou no ar. Ele só pensava se aquele homem rico falava a verdade, era metido a artista ou passava por uma crise. Os dois se encaravam, o dono da casa parecia feliz:

- E algum dos meus contos vale a pena? – ele perguntara sem medo.

- Bem, eles são bons. Mas eu não gostei do jeito que você escreve... Mas, veja bem! Se Sasha te enviou até mim é porque não é ruim. Pois eu pedi para ele só me enviar quem era bom.

O homem rico deu um sorriso berrando à compaixão, e colocou a mão no ombro dele:

- Garoto, vou ser sincero. Não publico seus escritos unicamente porque estou montando este livro para mim, talvez numa próxima, tudo bem?

Sem dizer uma palavra, ele se levanta do sofá. Cumprimentam-se em sinal de Adeus. O anfitrião o leva até o portão, ele sai um pouco depois de ouvir o portão fechar ouve:

- Qualquer coisa sabe onde me encontrar!

Levanta a mão esquerda e faz um aceno.

Todo aquele papo o havia deixado com sono, iria para casa dormir, perecia o melhor negócio para se fazer naquele momento.


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